Empresas sem capacidade para comparticipar ensino profissional
Lusa / EDUCARE | 2013-05-13
O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal afirma que as empresas portuguesas não têm condições de comparticipar os custos do ensino profissional. Nuno Crato promete mais oferta profissional e vocacional na agricultura.
"O princípio, em si, nada tem de criticável. Agora neste momento, em que as empresas se encontram com dificuldades de financiamento, nomeadamente para a sua atividade própria, não nos parece que seja uma proposta realista", afirmou João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) quando questionado sobre a ideia defendida pelo ministro da Educação, Nuno Crato.
"Achamos que é uma das funções do Estado, precisamente, criar condições para uma maior empregabilidade, para um emprego mais adequado às necessidades da economia", defendeu o empresário à margem de um seminário promovido pela Associação Nacional de Escolas Profissionais (ANESPO).
Segundo João Vieira Lopes, à exceção de uma ou outra empresa, a maior parte das empresas portuguesas "não tem qualquer possibilidade de participar no financiamento deste tipo de atividades".
De acordo com Vieira Lopes, o ministro não formalizou "em termos legais" a ideia que apresentou no Parlamento no final do ano passado durante uma audição na Comissão de Educação.
Em dezembro, Nuno Crato defendeu perante os deputados que a redução de custos na educação poderia passar pelo envolvimento das empresas no pagamento de estágios no ensino vocacional e profissional.
"Estamos a discutir neste momento como podemos repartir este tipo de custos", afirmou o ministro quando questionado pelos deputados sobre o financiamento da educação.
Na altura, o ministro indicou que estavam a ser discutidas questões como as empresas onde existem estágios profissionais virem elas próprias a assumir o pagamento desses estágios, em vez do Estado "Queremos que os estágios sejam progressivamente pagos pelas empresas", declarou, reiterando não estar em causa a gratuitidade da escolaridade obrigatória.
O sítio de Internet do Ministério da Educação e Ciência apresenta, aliás, na primeira página uma frase proferida recentemente pelo ministro: "É estrategicamente fundamental que as empresas se envolvam na educação".
Durante o seminário, o presidente da ANESPO, José Luís Presa, defendeu "um olhar regionalizado" sobre as escolas que melhores instalações, equipamentos e recursos apresentam.
Pediu também que o acesso à formação dos cursos profissionais não seja "tão limitativo" no que diz respeito à idade máxima prevista, alegando que deixa atualmente sem resposta concreta "centenas de jovens com 20 anos ou mais por todo país", nomeadamente em contextos onde não há outras alternativas.
MEC promete mais oferta profissional e vocacional na agricultura
Nuno Crato disse que o Governo pretende aumentar as ofertas do ensino profissional e vocacional nas áreas da agricultura, mar e ordenamento do território, com elevada taxa de empregabilidade.
Nuno Crato frisou que a visita que efetuou na passada semana, com a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, à Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão é exemplo dessa aposta do Governo.
"É um sinal muito claro de que estamos a apostar nas vias profissionalizantes" e de que "a agricultura, o mar e o ordenamento do território são áreas fundamentais para os jovens", disse.
Segundo o ministro, a empregabilidade dos jovens formados na escola profissional de Alter do Chão "é altíssima" e "praticamente todos têm emprego".
"São profissões procuradas. Porque é que não desenvolvemos mais este tipo de escolas e estas ofertas profissionais e vocacionais? Não há razão nenhuma, é isso que estamos a fazer", argumentou.
O ensino vocacional e o ensino profissional são "fundamentais para darem resposta à procura que existe na agricultura e na indústria" do país, afiançou, adiantando que são uma forma de fornecer "aos jovens as capacidades e os conhecimentos necessários para que possam encontrar um emprego nessa área ou prosseguirem estudos mais tarde noutras áreas, se assim o pretendem".
O ministro divulgou que, no próximo ano letivo, a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão vai começar a ministrar oferta vocacional, que funciona, até agora, como experiência-piloto no ensino básico.
"É um ensino muito prático", o qual vai, "agora, estender-se ao ensino secundário" na escola de Alter do Chão, que apresentou uma proposta nesse sentido, semelhante às de outros estabelecimentos do país, referiu.
A Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão, a funcionar na Coudelaria daquela vila alentejana, tem cerca de 130 alunos, 90% dos quais de fora do concelho.
De acordo com o estabelecimento de ensino, a taxa de empregabilidade dos estudantes situa-se nos 90%.