OCDE defende maior ligação entre formação e mercado de trabalho
A OCDE defende que formação, sobretudo a profissional, empresas e mercado de trabalho devem estar fortemente interligadas, apontando as experiências dinamarquesas e suíças relativamente ao ensino dual como bons exemplos que Portugal deveria seguir.
No relatório "Portugal: Reformar o Estado para promover o crescimento" hoje divulgado, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), da qual Portugal é membro, defende que "as políticas para melhorar a adequação entre as competências adquiridas na escola e as necessidades do mercado de trabalho passam por um maior envolvimento da entidade patronal na definição dos currículos, incluindo os universitários, e por proporcionar mais experiências profissionais a quem ainda está a estudar".
Sublinhado que foram dados alguns passos "na direcção certa" nos últimos tempos, a OCDE afirma, no entanto, que Portugal "devia fazer mais para tirar o máximo do ensino profissional e vocacional", recomendado, para esse efeito, o ajustamento dos programas de formação ao mercado de trabalho.
A Dinamarca e a Suíça são apontadas como exemplos que demonstram a importância do envolvimento das empresas no ensino dual e profissional que Portugal deve seguir, referindo que nestes dois países pelo menos 75% dos alunos que frequentam esse tipo de ensino passam metade do seu tempo em formação em contexto laboral.
Para a OCDE esta experiência tem duas vantagens: permite a alunos e familiares terem a percepção do valor da formação relativamente ao mercado de trabalho e oferece às empresas uma força de trabalho mais barata, assim como ganhos de produtividade no longo prazo.
O Governo já demonstrou estar apostado em seguir esse caminho, tendo isso mesmo ficado patente na "Estratégia para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial", apresentada pelo Governo no final de Abril, mas um dos pontos que a OCDE entende ser uma vantagem desta formação -- a redução dos custos de trabalho para as empresas -- já foi questionada pelos partidos políticos, que entendem que a medida pode dar abertura às empresas para reduzir salários.
A OCDE reforça ainda no relatório a importância da formação de adultos, "particularmente importante" no caso português, uma vez que há uma "larga franja populacional com baixos níveis de escolaridade" e atrasos nas reformas de educação para melhorar as competências da população activa.
A organização destaca que a formação laboral entre os adultos em Portugal está abaixo da média da OCDE, sobretudo entre os adultos mais jovens.
"Melhores competências básicas ao nível do processamento da informação, como um maior nível de literacia, poderiam trazer benefícios sociais e económicos para Portugal", frisa-se no relatório da OCDE.
A organização mostra-se particularmente preocupada com o fraco domínio nacional deste tipo de competências básicas, que podem degenerar em problemas de saúde ou baixos níveis de produtividade.
Os Centros para a Qualificação e Ensino Profissional (CQEP), lançados pelo actual Governo para substituir os Centros Novas Oportunidades, e o Plano Nacional de Leitura, são exemplos de medidas que a OCDE considera como "passos importantes" para reduzir problemas de literacia, mas defende que devem ser complementados com uma melhoria da qualidade dos primeiros anos de escolaridade e com um sistema mais eficaz de formação e educação de adultos.
Lusa/SOL