Ensino vocacional. Cursos são "pouco" ou "pouquíssimo" adequados aos alunos
O programa é a grande aposta do ministro Crato, mas a indisciplina ou as turmas grandes e heterogéneas são as principais fragilidades que os docentes apontaram no balanço da experiência-piloto
Seis em cada 10 professores que deram cursos do ensino vocacional básico nas 13 escolas ou agrupamentos do projecto-piloto do Ministério da Educação defendem que este programa está "pouco" ou "pouquíssimo" adequado aos alunos. Indisciplina, falta de maturidade dos adolescentes, turmas grandes e demasiado heterogéneas que misturam alunos do 2.o e 3.o ciclos, aulas de 90 ou 120 minutos "exageradamente extensas" ou falta de orientações por parte da tutela são algumas das fragilidades relatadas pelos docentes no "Balanço da experiência-piloto desenvolvida em 2012-2013", a que o i teve acesso.
O relatório do grupo de acompanhamento da experiência-piloto nomeado pela tutela tem por base inquéritos feitos a 104 professores e a 209 dos 285 alunos do ensino básico das escolas ou agrupamentos do Algarve, do Alentejo, do Centro, do Norte e Lisboa e do Vale do Tejo. Mais de metade dos docentes defendem que o currículo é também "pouco" ou "pouquíssimo" adequado aos interesses dos alunos (58,6%).
INDISCIPLINA O principal problema dos cursos vocacionais contudo não está tanto na estrutura do curso como nas dificuldades de aprendizagem, na falta de empenho ou ainda no comportamento dos alunos, características que, para os professores, "chocam com qualquer matriz" curricular. Até porque, como aspectos positivos, os docentes argumentam que a vertente prática (estágios nas empresas) pode ser motivadora para os alunos e que o curso se revela "completamente" adequando para as crianças e adolescentes que se mostraram empenhados.
Uma das maiores dificuldades, portanto, prende-se com o percurso de insucesso no ensino regular dos alunos que frequentaram os cursos vocacionais. No 3.o ciclo, 34,2% dos 196 alunos tinham no ano lectivo passado 15 anos, idade em que deveriam estar a sair do ensino básico e a entrar no secundário. Há ainda 24,2% dos alunos com 16 anos ou 18,2% com 14. No caso dos 13 alunos do 5.o ano que participaram no projecto-piloto, 11 (84,7%) têm entre 13 e 14 anos, o que significa que chumbaram pelo menos duas vezes no ensino regular.
DISCIPLINAS NUCLEARES As dificuldades que os alunos do 2.o e 3.o ciclos tiveram no ensino regular estão sobretudo ligados às disciplinas nucleares, como Matemática (65,2%), Inglês (54,4%), Geografia (40,7%) ou Português (34,8%). A maioria (42,3%) assume que não gostava da escola antes de frequentar o curso e 26,4% acrescentam ainda que não compreendiam a matéria e se sentiam desmotivados e desintegrados na turma.
Oito em 10 alunos (79,9%) não pensam portanto em voltar ao ensino regular por ser "mais difícil, entediante e desmotivador" e optaram por frequentar o curso vocacional por ser mais fácil (51,1%) e ajudar ainda a encontrar uma profissão (69,6%). Quando questionados sobre o que pretendem aprender com o curso, 136 alunos (65,1%) esperam adquirir conhecimentos úteis para "prosseguir os estudos e conseguir uma profissão", enquanto 68 (32,5%) querem estudar "matérias úteis para conseguir uma profissão".
Para os autores do relatório, estas duas respostas revelam que, na maioria dos casos, não foi propriamente a falta de vontade de estudar que ditou o insucesso no ensino regular, já que, "mediante as condições oferecidas por este curso, manifestam a intenção de prosseguir os estudos e, só então, obter a sua preparação profissional", lê-se no documento. Entre os aspectos positivos e negativos do curso vocacional, os alunos apontam aliás mais pontos fortes que fracos.
O grande problema para os adolescentes está, tal como para os professores, na indisciplina e nos colegas mais problemáticos que atrapalham o ritmo das aulas. A possibilidade de terem notas mais altas, a abordagem pedagógica dos professores e ainda estarem integrados em turmas com alunos que tiveram dificuldade em se adaptar ao ensino regular são os principais aspectos positivos apontados pelos alunos.
O ensino vocacional no ensino básico que começou em 13 escolas foi este ano alargado a mais 500 estabelecimentos de ensino e a cerca de 9 mil alunos do 2.o e 3.o ciclos. O projecto-piloto chegou também em Setembro ao secundário, com 22 escolas e 400 alunos com mais de 16 anos.
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