Gostei muito do que aqui li, da Reys ao Santos (apesar de parecerem posições antagónicas, não creio que tenham de o ser sempre), e da experiência da Sílvia, etc.
Eu não sei se ainda funciona, como noutros tempos funcionava, o ver um filme, daqueles que os marque; ou se isso acaba por parecer um "pressing". Ainda assim, julgo que mesmo sob esse risco, algo lhes fica de mais forte dentro do peito, ao verem um dos grandes clássicos sobre a relação entre o professor e os grupos difíceis. O mote poderá ser o da educação no nosso país, perguntando-lhes o que acham, que críticas têm, o que fariam se mandassem, e se fossem profs, etc... É deixá-los dizer o que pretendem, gerando debate, aceitando as opiniões. Uma vez um prof. foi entrevistado na TV e perguntaram-lhe a que é que se devia o segredo do seu sucesso junto de alunos complicados; e esse respondeu - de uma forma algo simplista, aceito - "eu pergunto-lhes o que eles acham". Ora, isso é verdadeiramente importante, porque muitos deles nunca tiveram quem lhes pedisse qualquer opinião e, assim sendo, tudo lhes é imposto; e se não exercem as suas posições, também não se sentem responsabilizados. Donde, começar-se-ia por aí, e depois convidar-se-ia o grupo para assistir a um filme, sob o trato de não haver barulho nem converseio pelo meio. E depois lá vem o filme de impacto: consoante o grupo (misto de etnias, grau de agressividade, disciplina a leccionar), podemos optar por um
"Dangerous Minds", com a Michelle Pfeiffer (com a vantagem de ter aquele belíssimo rap, o "Gangsta's Paradise") ou mesmo os
"Escritores da Liberdade". (Freedom Writers, EUA, 2007). Haverá mais e mais modernos, mas confesso-me bastante desactualizada, e o 1º é bem jeitoso!
Depois, eles que sigam para casa, sem secas nem moralidades, sem nada mais senão pensarem sobre o filme para o poderem comentar na aula seguinte (ou, em alternativa, pedir a cada um que escreva o que o filme lhe fez concluir, pensar ou sentir). Se houver clima, pode-se aproveitar para dizer que a professora que eles têm não é a do filme, nem quer ser;, e que eles não são como os alunos do filme, nem ninguém queria que eles fossem. Apenas queremos ser nós, com respeito pela nossa pessoa e sem pôr de parte os laços de afecto, que fazem parte da vida e importam; que não são mariquice, não um privilégio, um prémio (que nem todos nos merecem, mas temos que ir sabendo escolher). Porque também é disso que se fazem pessoas felizes. Disso, e de oportunidades, de sorte de daqueles com quem nos cruzamos. E por aí fora, incluindo aqui todas as boas ideias que a colega vá colhendo de outros colegas. Se é que isto faz algum sentido, claro. São só ideias, esperando que o caos "idiota" possa parir uma estrela que dance, lembrando Nietzsche.
Se o ambiente for melhorando e eles forem aderindo, aos poucos poderemos pensar num outro desafio, como o de, a cada dia fixo da semana, eles levarem um pensamento seu (qualquer coisa vale, desde a forma como se sentem, a algo em que tenham pensado ou feito e gostassem de partilhar; seja um verso ou uma manifestação de revolta, o que for que sintam que devem escrever) que deverá ser assinado e colocado, fechado, sem mostrar a ninguém, numa caixa de cartão do tipo urna de voto. Há que lhes dizer logo que aquilo se destina a ser aberto no final do ano, que a professora depois irá passar a computador todos os contributos, as suas datas e o nome dos autores, fazendo uma complicação. E que, apesar de não haver coisas proibidas, têm que perceber que as asneiras irão ser censuradas no fim, não aparecerão. Se o professor achar por bem, pode entrar no jogo e fazer o mesmo... ou não. Isto é um bom esquema para quando se sabe que no ano seguinte vai calhar a mesma turma. E depois é preciso ir tendo a paciência de ir escrevendo as frases diariamente, para que no final não se tenha que ter todo aquele trabalhão. A uma semanita do fim das aulas, todos os alunos terão um caderninho com todos os seus contributos, aluno a aluno, e mais os votos finais do seu prof. Se possível, vamos tirando algumas fotos deles nas actividades propostas ao longo do ano, e no fim exibimo-las numa apresentação em powerpoint com música ao gosto deles, o que acaba por se tornar um momento final bastante comovente. Assim é possível que no ano seguinte eles pareçam outros, bem mais maduros e ponderados. Será mais fácil quando já é o segundo ano...
Já o caderninho com os contributos de cada qual, permitirá ao prof. perceber até que ponto houve evolução na forma se estar dos seus alunos, e é capaz de ficar surpreendido com aquilo que deles não conhecia. O mesmo entre eles se passará, provavelmente. E é também um registo que pode ser mostrado no Conselho Directivo em eventuais circunstâncias particulares.
É só o que me ocorre.
Muito boa sorte!!!