Boa tarde, colegas!
Em primeiro lugar, gostaria de registar aqui que muito há para escrever sobre a presente situação, contudo, faço minhas as palavras de outros colegas, nomeadamente, a Maria B. e os colegas que escreveram nesse sentido.
Quanto à opinião do "canhao", de facto, devo dizer que entendo o seu ponto de vista, contudo, em relação à sua afirmação "a César o que é de César" e aos professores a formação base e/ou sócio-cultural e aos formadores a tecnológica, gostaria só de levantar esta "pequena questão" que, sei perfeitamente, nem é considerada por total desconhecimento do que se passa na formação:
- E o que sucede aos formadores da formação-base que, POR MERO ACASO, até são professores (não com habilitação própria, mas profissionalizados, muitos dos quais via ensino), que se encontram HÁ ANOS a ministrar formação para o IEFP por OPÇÃO, tendo perdido todos os possíveis privilégios de uma colocação na escola (direito a desemprego, a baixa, subsídio de férias, de Natal... direito a colocar artigos para faltar; poder faltar sem ser brutalmente penalizado... não andar a correr entre dois ou três sítios, por vezes a mais de 50km de distância, sem hora de almoço e apenas num dia, fazendo isto toda a semana, durante quatro semanas, cerca de 11 meses e uns dias por ano, sem sequer direito a férias, entre outros) optando, mesmo assim, por trabalhar a recibos verdes, simplesmente por se sentirem mais úteis e num sistema de aprendizagem mais adequado do que na Escola Pública? O que acontece a esses formadores?
Já agora, gostaria de acrescentar (e penso que não sou uma avis rara, no que a este assunto diz respeito) que uma boa parte dos formadores do IEFP (formação base, científica ou tecnológica), não só tem Licenciaturas, como Pós-Graduações, Mestrados (muitos dos quais PRÉ-Bolonha) e alguns têm, ou andam a terminar, doutoramentos.
Será que, quem baixa o nível e perde a dignidade ao redigir textos totalmente indignos de um dito profissional do ensino, apontando o dedo à suposta "incompetência, burrice e falta de qualificação dos formadores" já parou, por um momento que seja, para pensar que muitos formadores estão no IEFP não só porque gostam, porque se sentem realizados, como também por outros motivos???
Passo a indicá-los:
- estar mais próximo da família (pais, tios, avós...)
- formar uma família (casar, comprar casa, ter bebés) - não tendo de andar com a "casinha às costas" por meio Portugal, ainda que não existam privilégios por se estar a recibos verdes
- motivos de saúde (cancro, leucemia, esclerose múltipla...) - doenças que implicam muitos tratamentos certos, contínuos e que, estando o formador apto a trabalhar, no IEFP facilmente pode tentar trocar com um colega - sem perder o dinheiro dessas horas e, SOBRETUDO, SEM prejudicar os formandos com a sua falta
- querer continuar a estudar (após a licenciatura, pois, com o mesmo sistema de trocas, consegue-se com que nenhuma parte - formador/formando - saia prejudicado e mais facilmente se continuam os estudos superiores)
- gostar simplesmente de ensinar e, no IEFP isso é bem possível, com a constante adaptação de referenciais ao público-alvo que existe; a satisfação é maior, as pessoas aprendem e, algumas saem dali "MOTIVADAS PARA A VIDA" pois sentiram-se valorizadas em algo que sabem fazer e que, antes ninguém valorizava. Muitos formandos descobriram mesmo o prazer da leitura, a magia da escrita... E a satisfação do formador é muito maior do que o seria como professor na escola (muitos formadores sentiram ou sentem isso a dado momento nas suas vidas)
- ter duas áreas de estudo e, na escola, haver 90% de hipótese de só passar a dar uma delas, mesmo que se goste das duas (como sucede, por exemplo, com as línguas)
- gostar quer, da formação de Adultos (EFAs), quer da formação de Jovens (CEFs e Aprendizagens), não conseguir escolher e desejar continuar a ensinar jovens e adultos em simultâneo, sem ficar "confinado a um ensino somente de jovens".
E poderia continuar a discorrer sobre o assunto por mais umas 30 páginas.
Para mim, um professor não é melhor que um formador, nem vice-versa.
Sou professora profissionalizada, mas, a dado momento da minha vida, optei por ser apenas formadora, deixando o "Sr.ª Dr.ª" de lado, como me chamavam na Escola Pública (pessoalmente, detestava esse epíteto!).
Prefiro, sinceramente e com o maior respeito por todos os colegas, não me manifestar a favor de uns e contra outros.
Para mim, bom profissional é o que faz cumprir o seu trabalho, admite as suas falhas, tenta melhorar e vai SEMPRE à procura de novas formas de readaptação e adequação ao processo de Ensino-Aprendizagem face ao público-alvo.
Ser professor ou formador, para mim pouco interessa. Conheci uns excelentes, conheci outros péssimos.
Se me perguntarem qual a vida mais dura... "Olhem, é a de formador!" - não há afectação a uma entidade, não há regalias, desconta-se do próprio bolso, raramente se consegue estar um dia no mesmo local, muitas vezes não se come, as reuniões são muitas e não são pagas... entre variadíssimos outros factores.
Contudo, isso não faz do formador um coitadinho ou alguém melhor que os outros, mas, certamente, também não fará do professor que, socialmente, recebe toda a honra e graça que um formador não recebe na pirâmide da nossa sociedade actual, um ser superior.
Bons e maus há em todo o lado. Não vale a pena atirar pedras.
Vale, sim, apelar à união! De toda a classe trabalhadora no ensino!
E, gostaria de acreditar fielmente que, quem faz determinadas alegações, apenas o indica com base numa ignorância generalizada sobre o que é a "outra profissão" (como consta em "Diário da República, 1.ª série N.º 143 27 de Julho de 2011 ", no Decreto-Lei n.º 92/2011, no anexo ao artigo 22º, vem, no final desse artigo e Decreto-Lei a indicação da legislação que admite formador como profissão).
Desejaria ainda saber (e tentando encerrar este texto/relato de uma vida, que já vai bem longo), quem tem a coragem de, após reflectir nos motivos por mim indicados acima sobre o que é SER FORMADOR POR OPÇÃO, continuar a atirar pedras à formação FORMADOR.
Que atire a primeira pedra quem nunca teve saudades da família, uma doença grave, vontade de prosseguir estudos
Que derrame palavras venenosas quem nunca teve verdadeiro amor ao ensino e não o considera uma forma de arte e satisfação de ambos, mestre e aprendiz
«A União faz a força.»
Una-se à luta quem vier por bem.
Um grande bem haja!
Carla*