Quando comecei a dar formação, em 1997, pagavam-me 7 a 8 contos por hora. A alguns colegas pagavam um pouco mais. Eram acções co-financiadas.
Quando essas acções terminaram, já eu tinha alguma estaleca (modéstia à parte, posso considerar-me reconhecida na qualidade de formadora) e recebia uma média de 30 a 40/h quando ministrava formação a empresas (em alguns anos andei nos 45) e nunca menos de 20 (aliás, quase sempre mais: 25 e 30) dando formação de formadores.
Depois veio a miséria...E hoje os centros de formação raramente oferecem mais de 25/h para formação a empresas (seja qual for o tema) e a FPIF típica (i.e., para públicos generalizados) anda a pagar 15/h... O que é um insulto, tendo em conta as competências que são necessárias a um formador que seja realmente bom (e não aos pequenos impostores, que o que não sabem inventam, pondo a perder todo o trabalho realizado pelos colegas em prol de formandos realmente bem formados), bem como o esforço e o desgaste que exige (e que para alguns é nenhum, é tudo "na boa", deformando ao invés de formar).
E os formadores foram deixando que isso acontecesse. E as empresas foram-no fazendo. E os formadores não tiveram outra hipótese, porque se dissessem que não, as empresas contratavam outros, mesmo que incompetentes. E as empresas foram ganhando com isso. E foram baixando os preços das inscrições, tentando assim ganhar vantagem à concorrência. Mas todas o foram fazendo, pelo que não ganharam nada; e tudo se mantém no mesmo equilíbrio idiota, mas com valores mais baixos. Ganha o consumidor, o que se inscreve; perdem aqueles que se esmifram para formar, e nada voltará atrás, porque isto dos dinheiros é mesmo assim.
Acções de formação que custavam ao cliente 400, agora custam 250, por exemplo. Veja-se: eu trabalho num centro de formação que pagava 20/h aos formadores e agora paga 12,5!!!
Se eu trabalho por esse valor? Não, não trabalho. Mas quase todos os dias me atiram à cara a "avultada quantia" que recebo (mesmo sendo quem "segura" muitos clientes), e que não é, sequer, aquilo que dantes eu recebia. Em suma: a crise chegou a todo o lado, e nota-se aqui!!!
Fica-nos a consciência de que, cada vez mais, quem está na formação é por amor à camisola, e não por dinheiro. Porque o dinheiro já não compensa. E se a isso juntarmos a crise de valores que grassa pela maioria das escolas de formação (que ao querer poupar em tudo, até naquilo que é essencial, já nem se preocupa mais com a qualidade e com a satisfação, apenas com os números), então é que, não tarda mesmo nada, poderemos dizer que já nada compensa nada!
Peço perdão pelo pessimismo, de quem, aliás, sempre foi uma optimista da formação. Foi. FOI!