Ana Aktller!
Li-te com atenção, e concordo no geral. Uma coisa me ocorre dizer, no entretanto: não sei se o mais deste assunto se deve ao facto dos colegas António e João serem "do tempo da formação dura". Pensei nessa questão - tentando não ser tendenciosa, porque é bem possível que eu partilhe essa geração com eles - e concluo que talvez não seja isso. Ou, pelo menos, não apenas isso, e sim uma enorme necessidade de preservar a exigência das coisas, e assim a qualidade. E é através de muita honestidade, de investimento e brio profissional que isso se consegue. O que eu acabo por perceber, é que passa imensa gente por aqui que não tem ideia do que isto seja. Que não percebe que faz mal (muito mal) em atirar-se para a frente de formandos sem nada de jeito para lhes dar. Porque é exactamente isso que está a acontecer!!!
Aquilo a que talvez nos tenhamos habituado (apesar de eu não poder nem dever falar dos outros, e de me estar aqui a arriscar) terá sido a ver a diferença entre uma formação que faz sentido e outra que não faz sentido nenhum. A primeira é dada por quem sabe e tenta continuar a saber. Sabe do que fala e sabe dá-lo a saber aos outros, já que estão aqui duas coisas diferentes. Sabe, e gosta de saber, procurar, também. Nota-se logo quando assim é... Nada impede de pedir ajuda aos colegas, e é muito para isso que este forum existe. Mas um discurso do tipo vou dar formação de XPTO e não tenho nada sobre isso, quem me arranja materiais!, para além de ainda hoje me parecer algo que nos chega directamente do reino dos impossíveis, mostra muito mais do que falta de alguns materiais, de algum apoio, de alguma inspiração, orientação, sugestão, enfim... de algum ombro de colega. Mostra uma completa ausência de saber, de trabalho, de responsabilidade. E sem isso, é-se o quê? Vamos permitir que esses sejam os formadores? Se por vezes são os formandos de outros que lhes têm de dizer o que devem fazer (como já neste forum aconteceu!). Ná, isso é a total perversão das coisas, uma fantochada e um crime moral. E, sabendo nós como as empresas não se importam de embarcar em coisas dessas para comer o seu, e alguns não-formadores (porque não há bons formadores assim) estão prontinhos para dizer que sim mesmo sem saberem o que lhes é pedido (se lhes pedissem para dar formação em medicina, diriam sim, decerto), alguém tem de chamar os burros pelos nomes, e opor-se a esse estado de coisas parece-me o mínimo demonstrativo de saúde mental. E isto não tem nada a ver com o facto de se dever ajudar os colegas que se encontram no início da sua carreira. Como é evidente, também eu já fui uma formadora sem experiência. Primeiro nenhuma, depois pouquinha, depois um pouco mais, mais e mais, mas sempre menos do que outros colegas, a quem consulto em caso de necessidade. No entanto, eu podia não ter experiência a dar formação sobre batatas, mas tinha conhecimentos aprofundados sobre batatas; podia nunca ter falado em público sobre isto ou aquilo, mas tinha (tinha de ter!) experiência profissional nisto ou naquilo. Se eu alguma vez na vida dissesse, alto e a bom som, para me ajudarem a dar uma formação sobre a qual eu estava a zeros, posso jurar que não haveria nenhum bom colega que fosse querer ajudar (a desajudar), e certamente que iriam julgar que eu estava louca. No mínimo, iriam preferir que eu não fosse colegas dele. Não é difícil de compreender. Hoje em dia, Ana, a maior parte dos curiosos anda à procura de uma apresentação em powerpoint feita por um qualquer desconhecido, seja lá com a qualidade que for; idem para os exercícios; idem para os planos de sessão; idem, idem, idem. Quando, na verdade, deviam era estar à procura de alguém que os substituísse por inteiro, porque tudo isto que procuram só nos prova que eles não servem. E eu acabo este meu discurso chato dizendo que é com tristeza que o escrevo... Honestamente!
Mas tudo isto sei, pela leitura que fiz do teu comentário, que entendes. Ainda que possamos ter perspectivas diferentes sobre um ror de coisas (é normal que assim seja), há sempre um mínimo denominador comum entre aqueles que gostam de ensinar aos outros o que sabem.
... Só o que sabem!
Um abraço,
Paula